terça-feira, 23/02/2021
Estudo do ICVS da Escola
de Medicina da Universidade do Minho procurou perceber se os valores de uma
molécula no sangue podem indicar um pior prognóstico nos doentes – e a resposta
é certeira. Este biomarcador, a interleucina-6 (IL-6), pode ajudar a guiar o
tratamento e a prever de forma mais precisa o desenvolvimento de complicações
relacionadas com a COVID-19.
Um teste barato pode
ajudar a prever a evolução dos pacientes com COVID-19. Como? Ana Frias (investigadora do ICVS), André Santa
Cruz (médico internista no Hospital de Braga e investigador do ICVS) e Ricardo
Silvestre (investigador do ICVS) fazem parte da equipa que avaliou a capacidade
de uma molécula, a IL-6, sinalizar antecipadamente o agravamento da
insuficiência respiratória, a consequente necessidade de ventilação mecânica
dos doentes ou um desfecho fatal.
A equipa, que publicou o artigo científico no qual descrevem as
conclusões na Frontiers in Immunology,
percebeu que a subida dos níveis desta molécula estão associados a uma maior gravidade
da doença.
“Em fase de pandemia, a
utilização de um biomarcador [IL-6] que possa informar se nas 48 horas
seguintes o doente vai melhorar ou piorar, pode ser uma ajuda crucial na
definição de um nível de cuidados e de vigilância para cada doente,
optimizando-se a gestão de recursos hospitalares que é crítica nesta fase”,
explica o médico André Santa Cruz. O teste, que permite medir os níveis de IL-6,
além do baixo custo é rápido – e fornece os resultados no próprio dia.
O que é a IL-6?
IL-6 é uma molécula que
permite uma comunicação celular. As células do sistema imunológico utilizam uma
série de moléculas – as citocinas – que permitem essa comunicação. E a IL-6 é
uma delas, sendo uma proteína cuja expressão é aumentada significativamente em
casos de inflamação.
Na COVID-19, a IL-6
parece sinalizar bem o estado hiper-inflamatório induzido pelo vírus e que se
verifica nos doentes internados em que a infecção tem um pior prognóstico.
Biomarcador preditivo para o paciente e para o SNS
“Qual é a grande vantagem
que damos neste artigo? A IL-6 já tinha sido previamente associada como um
marcador de COVID-19, mas a maioria dos estudos prévios fazem a avaliação do
doente à entrada do hospital. Nós fizemos o seguimento durante toda a hospitalização.
E isto permite-nos, através dos níveis da IL-6, prever o que vai ocorrer”,
explica o investigador Ricardo Silvestre.
Num estudo com 46
pacientes, a análise laboratorial conseguiu notar estas diferenças. “O doente
passa por vários momentos durante o seu internamento. Há doentes que começam
logo a melhorar, outros que têm uma fase de agravamento e depois melhoram, e há
um conjunto de doentes que piora progressivamente”, contextualiza André Santa
Cruz. “Percebemos que a IL-6 tem esse dinamismo de acompanhar o curso da
infeção ao longo do tempo e isso permite-nos perceber que a subida da IL-6 se
dá em fases concretas – habitualmente entre o 7.º e o 10.º dia de sintomas– e é
limitada no tempo. A grande vantagem é que existem fármacos no mercado que
podem antagonizar a IL-6, diminuindo essa inflamação excessiva [que cria
complicações]”, explica. Este trabalho pode ter contribuído para uma utilização
eficaz desse tipo de fármacos no futuro, o que seriam excelentes notícias para
o tratamento da COVID-19.