segunda-feira, 31/08/2020
Um estudo mundial, com
mais de 12 mil pessoas, descobriu várias alterações no córtex, algumas ainda na
gestação, que são comuns às seis principais doenças psiquiátricas: défice de
atenção/hiperatividade, autismo, doença bipolar, perturbação depressiva, perturbação
obsessivo-compulsiva, e esquizofrenia. Maria Pico-Pérez e Pedro Morgado são os
dois investigadores portugueses que participaram neste trabalho.
Uma investigação mundial, na qual participou uma
equipa do ICVS e da Escola de Medicina Universidade do Minho, descobriu que há
alterações do córtex (tecido que constitui o cérebro) que são comuns às seis
principais doenças psiquiátricas, e ocorrem logo no período pré-natal ou muito
precocemente no desenvolvimento da criança. O estudo, publicado na JAMA
Psychiatry, analisou o cérebro de mais de 12 mil pessoas que sofrem de défice
de atenção/hiperatividade, autismo, doença bipolar, perturbação depressiva,
perturbação obsessivo-compulsiva e esquizofrenia – as seis principais doenças
psiquiátricas.
“Com esta descoberta vamos conseguir compreender
melhor como é que as doenças se estabelecem e como evoluem para podermos
encontrar novas formas de as tratar. Até ao momento o que fazemos é tentar
reduzir os sintomas de doenças completamente estabelecidas do ponto de vista
cerebral, isto é, já vamos tarde para reparar as alterações cerebrais que
começaram muito cedo e muito precocemente a acontecer”, explica Pedro Morgado,
investigador do ICVS da Escola de Medicina da Universidade do Minho.
E acrescenta: “Se for possível conhecer as
alterações cerebrais é possível intervir mais cedo porque sabemos quem são as
pessoas que têm potencial de adoecer. O nosso objetivo é, um dia, conseguirmos
prevenir o aparecimento das principais doenças psiquiátricas porque
identificamos as pessoas que têm essas alterações cerebrais e implementámos
técnicas que as possam reverter ou que possam mitigar a sua expressão
patológica. Ou seja, que a doença se expresse”.
Este estudo permitiu mapear cerebralmente as doenças,
não só ao nível da região cerebral como um todo, mas também das caraterísticas
das células de diferentes regiões cerebrais, e identificar interações entre os
genes e as células. Através desta análise foi possível verificar que algumas
das alterações cerebrais surgem muito precocemente, enquanto outras acabam por
se estabelecer ao longo do desenvolvimento por ação de fatores psicossociais.
Pedro Morgado explica que “embora a estrutura cerebral seja amplamente influenciada
por fatores genéticos, a verdade é que essa estrutura não é rígida podendo ser
modulada pelas experiências de vida”.
Esta investigação está integrada num consórcio
mundial – o ENIGMA - que envolve seis redes de investigação dedicada ao estudo
do cérebro.
Pode
ler o estudo completo aqui.