22/05/2024 - 06/06/2025
Rui Miguelote e Vanessa Silva, professores da
Escola de Medicina da Universidade do Minho arrecadaram na passada semana o Prémio
Clínico da Sociedade Portuguesa da Medicina da Reprodução.
O projeto de investigação vencedor nasceu da
necessidade, sentida na prática clinica, de melhorar a abordagem e o
diagnóstico das principais causas de disfunção ovulatória, que se manifesta em
mulheres jovens por ciclos menstruais irregulares ou ausência de menstruação
e que é a principal causa feminina de
infertilidade. Estas pacientes são quase sempre diagnosticadas como tendo a
Síndrome do Ovário Poliquístico que é a causa mais frequente destes
sintomas, mas na verdade, muitas delas têm, ou coexiste uma
Amenorreia Hipotalâmica Funcional (outra causa frequente destes sintomas).
Rui Miguelote explica que “este erro de
diagnóstico acontece frequentemente devido à fisiopatologia do Síndrome do
Ovário Poliquístico que é ainda parcialmente mal compreendida e porque os
critérios diagnósticos são pouco específicos. Por outro lado, o diagnóstico
da Amenorreia Hipotalâmica Funcional é complexo e não possuímos bons
métodos para identificar e quantificar algumas das suas causas, nomeadamente o
stress psicológico. Como a Amenorreia Hipotalâmica Funcional, em mulheres
jovens com boa reserva ovariana, cursa com oligomenorreia (ciclos irregulares
ou ausência de menstruação) e com ovários com morfologia poliquística na
ecografia (2 critérios diagnósticos de Síndrome do Ovário Poliquístico) é fácil
que erroneamente a doente possa ser diagnosticada como tendo a Síndrome do
Ovário Poliquístico. Este erro diagnóstico conduz a orientações terapêuticas
que são muitas vezes ineficazes e que vão atrasar ainda mais a correção da
anovulação e causar ansiedade e sofrimento a estas mulheres”.
Já Vanessa Silva realça que “um diagnóstico
correto entre Síndrome do Ovário Poliquístico e Amenorreia Hipotalâmica
Funcional é essencial para garantir que cada mulher receba o tratamento
adequado, o que pode melhorar significativamente a sua qualidade de vida e
saúde reprodutiva. Os nossos resultados sublinham a importância de avaliar o
stress psicológico, os hábitos de exercício físico e os níveis de leptina em
mulheres com ausência de menstruação e imagem ecográfica de “ovários
poliquísticos”. Reforçam também que os “ovários poliquísticos” representam
apenas a morfologia do ovário e não uma condição patológica, e que, por si só,
não devem estabelecer o diagnóstico de Síndrome
do Ovário Poliquístico”.
Os grandes objetivos deste projeto passam por
assim definir melhor os critérios diagnósticos destas duas condições e validar
o uso de novos doseamentos hormonais e de testes de avaliação do stress
psicológico que permitissem distinguir melhor estas patologias e com isso
permitir uma melhor orientação destas doentes.
Quanto ao reconhecimento deste prémio ambos
enaltecem a “gratificação” de ver o trabalho reconhecido, mas que será “uma
mais valia” para todos os médicos desta área que poderão ter acesso a esta
informação e que foi dado um “passo importante que fará uma diferença tangível”
na vida das mulheres.
Este projeto de investigação inOvulação, recrutou, a
partir de uma página na internet (https://www.inovulacao.com/), participantes com estas condições e participantes
com ciclos menstruais regulares (grupo controle). Este trabalho teve o suporte
financeiro de uma Bolsa de Investigação concedida pela Merck Serono e
que permitiu custear todos os doseamentos hormonais.